Roupas têm nomes bobos

Sou meio metido a filósofo, admito. Por vezes, penso profundamente sobre o futuro do mundo, sobre a natureza da humanidade, sobre a pergunta fundamental sobre a vida, o universo e tudo mais, e sobre sua resposta

Por vezes, eu penso em bobeiras. Por vezes, eu penso em palavras. Por vezes, eu penso como palavras e bobeiras são muito próximas. E penso em palavras bobas, também. 

Esse é um tipo de exercício muito interessante, porque ele pode te levar muito longe e, mesmo que não pareça ter nenhum uso prático na vida, te dá uma musculatura legal para quebrar a cabeça com coisas mais sérias. Mas ninguém vai te julgar (muito) se você se divertir com as perguntas sem consequência e as totalmente bobas.

Por exemplo: roupas têm nomes bobos. Muito bobos mesmo. Sério. Tire dois minutinhos da sua vida e pense sobre os nomes bobos de roupas.

Pense comigo: o que define calças como calças? É a cintura? As pernas? Há muito o que se pensar sobre elas, porque essa definição pode ser muito importante (?) para entender outras definições.

Por exemplo: se "shorts" se diferenciam por serem calças curtas (“short pants”), podemos dizer que o fator de diferenciação é o tamanho das pernas. Entendo que bermudas — que, aliás, aparentemente foram inventadas mesmo nas Bermudas — ficam fora dessa definição, porque têm esse apelido.

Mas e as calcinhas? E as calçolas? Uma definição de dicionário diz que calcinhas são efetivamente calças curtas, mas tecnicamente não deveríamos, pela mesma lógica, chamar os shorts de “calcinhas”, abandonando o termo em inglês? E, progredindo nessa lógica, não deveriam as calcinhas alcançarem um novo patamar de diminutivo? “Calcinhazinhas”? “Calcetes”?

Outra: camisas. Para começar, o que raios define “camisas” como camisas? Qual é o critério? Da "camisa" para a "camiseta", o que muda são os botões? Ou o acabamento, como um todo? 

Não podemos dizer que são as mangas, porque tanto “camisas” quanto “camisetas” possuem mangas. Regatas, ou “camisas regatas”, ainda são camisas, mesmo não tendo mangas, então não é tanto a ausência ou presença de pano nos braços que define uma camisa como tal. 

Assim, temos que seguir com algumas outras hipóteses para definir qual o critério do que realmente é uma camisa. Das muitas características que podemos considerar, há o fato de que é uma peça de vestuário, geralmente de algum tecido, que geralmente se veste ou se fecha ao redor do tronco, sem elementos que a assemelhem com outras peças como jaquetas, sem gorros e derivados, e por onde pode se passar a cabeça e os braços.

Aqui, já podemos criar muita discussão por definições, mas essas características são apropriadas, em termos gerais,  abrangendo até a "camisola" e possibilitando considerar até mesmo uma camisa reconhecida, mas menos lembrada, que é a camisa-de-força (ainda que esta tenha mangas apropriadas para que os braços, quando passados pelas mangas, sejam presos). E aí vem a pergunta pseudo-filosófica: como isso se encaixa com camisinhas?

“Camisinha” é o pior apelido possível para um preservativo. Afinal, veja só: ela não é uma peça de vestuário (ao menos, não na maneira habitual), ela não é vestida no tronco*, ela não é feita de tecido e, mais importante de tudo, ela não deixa passar a cabeça* e nem os braços! Já dizia a sabedoria popular que “pau não tem ombros” e, logicamente, eles também não têm braços. E nem na camisinha feminina isso se aplica! Talvez, assim, “capuzinho” fosse um termo muito mais adequado. Ou “saquinho”? Ou “gorrinho”?

Esse é o tipo de pergunta sem consequência com que eu me divirto diariamente. As pessoas que me conhecem, no geral, são muito pacientes.

*[Insira aqui uma piada de duplo sentido]