Eu, Nós, Eles

Historicamente, os humanos sempre tiveram uma dificuldade muito clara, que já foi chamada de “doença do protagonista” (“protagonist disease”): nós pensamos que o mundo gira ao nosso redor e vemos aqueles que são distantes de nossa realidade como “outros”, meros secundários relegados ao cenário.

É claro que, colocando nestas palavras, todo esse comportamento soa absurdo e imediatamente pensamos que não pode ser verdade – afinal, somos melhores do que isso, não?

Na verdade não. No mundo da psicologia social, isso tem até um nome, é o Viés de Atribuição. (Se preferir, este artigo em inglês tem mais informações ainda sobre ele.)

O problema é que, tanto por motivos biológicos quanto sociais, nós temos um comportamento bem simplista. Nos é fácil atribuir culpas e comportamentos a outros simplesmente por serem “menos reais” que nós. Ou seja, é fácil generalizarmos.

Mas o problema é exatamente esse – a partir do momento em que há generalização, nosso sentimento se generaliza, bem como nossa opinião. Considere um assunto pelo qual você tenha paixão. Ultimamente, posicionamentos políticos tem sido ótimos para este experimento. Considere alguém que odeia algo que você gosta ou se opõe. Agora responda: por que essa pessoa é contra isso? Que experiências ou conhecimentos poderiam tê-la feito ter tal comportamento? Tente dar uma solução sem cair numa generalização. Isso é um verdadeiro exercício mental.

Isso funciona com diversas opiniões na vida, seja para times de futebol ou partidos políticos. Pode ser que, em algum momento, você pense que “o outro é só o outro porque é mal-intencionado”. Má intenção existe, mas ela é rara, e mesmo ela pode ter um raciocínio por trás. Não se contente em encontrar no outro um vilão.

A melhor coisa desse exercício é que, se feito corretamente, você chegará a um momento em que vai se dar conta de que o outro não é muito diferente de você. E poderá encontrar compaixão.

Seguindo essa receita, temos o potencial para transformar nossas discussões, adotando a não-agressão. Porque se a agressão (não apenas a agressão física) existe, não há diálogo. Ela apenas fortalece o conflito e nunca o finaliza. A História está aí para provar isso.

Aprendendo compaixão, ganhamos o potencial de ensinar compaixão. Lembra quando foi dito que nosso cérebro vê os diferente como “outros”? Isso é porque os próximos já são “como nós” muitas vezes. A partir do momento em que compreendemos que não há uma maldade sistêmica, nem uma grande diferença, só poderemos ter compaixão. E não haverão mais “outros”, mas apenas “nós”.

Conteúdo extra, não de todo relacionado, mas ainda assim relevante, que em parte inspirou este texto: