“O Melhor de Mim” - Nicholas Sparks volta (e falha) novamente

(Divulgação | Relativity Media / Imagem Filmes)

(Divulgação | Relativity Media / Imagem Filmes)

(Post originalmente criado para o blog "Além do Oscar" do Portal POP)

Existem escritores que já ganharam o cinema com inúmeras obras. Mas inegavelmente, alguns desses chegam a outros formatos por serem “fórmulas certas” - apostas razoavelmente seguras para produtores conseguirem roteiros com um certo público cativo. Nicholas Sparks é um desses - seus romances e dramas já ganharam as telonas mais de uma vez, com resultados mistos. E Hollywood, claro, não parece querer largar o osso.

“O Melhor de Mim” (“The Best of Me”), baseado no livro de mesmo nome (edição nacional pela editora Arqueiro), é a tentativa mais recente. E desta vez - alguns poderão dizer “outra vez” -, não deu muito certo. Prepare os lencinhos, que vamos abrir as comportas da água com açúcar:

Era uma vez Amanda (Liana Liberato) e Dawson (Luke Bracey). Ela, de uma família rica e esnobe. Ele, de uma família pobre, de caipirões agressivos que só atrapalham sua vida. Este é um romance, então não preciso nem explicar que os dois se gostam muito e que o pai da moça não aprova o relacionamento. Uma série de eventos trágicos os levam a se separar e, 20 anos depois, com a morte de Tuck (Gerald McRaney), um conhecido em comum, os dois se encontram novamente (Michelle Monaghan / James Marsden) em sua cidade natal, reacendendo velhos sentimentos, apesar da moça ter se casado com outro na ausência de Dawson.

 

O problema aqui não é atuação. Tanto o casal 20 anos antes ou 20 anos depois sabe se virar muito bem. Há uma química, existem os requisitos básicos para um romance. Mesmo entre os secundários, não há do que reclamar, com destaque para McRaney. O problema é todo o resto do filme.

Para começar, alguns elementos parecem completamente fora de lugar, como a família de Dawson, que parece um tipo de “Família Buscapé” que deu errado. Mesmo o pai rico de Amanda nada mais é que um... “pai rico”. Não faltam caricaturas que parecem quase ofensivas, de tão óbvias.

Tudo mais é conveniente - seja para contar uma história ou realmente para emocionar. O filme coleciona clichês de todos os lados, e não tem vergonha alguma de construir um roteiro óbvio. Se algum problema de um personagem é referenciado em algum diálogo, é certeza que esse elemento irá voltar à cena. Os dramas são colocados no enredo como blocos de montar e o filme faz tudo que pode para tentar arrancar lágrimas.

Não só isso, todas as cenas de casais mais clichê existem (começando pelo pôster com um “quase-beijo”), incluindo o ridiculamente recorrente beijo na chuva. O apelo de “tudo acontece por uma razão” que tenta ser o tema do filme, criando um vínculo espiritual entre o casal, parece tirado diretamente dos sonhos de adolescentes frustrados: Dawson vê o rosto de Amanda em situações de quase-morte e, mesmo separados, os dois ouviam as mesmas canções enquanto pensavam um no outro, sem falar dos momentos em que o durão Dawson, trabalhando em uma plataforma de petróleo, olhava para as estrelas romanticamente... é, não falta água com açúcar.

Agora, romance água com açúcar e drama, por pior que sejam, geralmente funcionam e atingem seus públicos. O problema é que a bagunça do roteiro acaba com a cadência de ambos, deixando tudo bem mais absurdo do que deveria ser.

O que mais incomoda, porém, foi a escolha de atores: boa parte da história se passa em flashbacks, então temos versões em duas idades dos protagonistas. Mas Dawson Jovem (Luke Bracey) não convence absolutamente ninguém como um colegial, sem falar que ele e Dawson Quarentão (James Marsden) mal se parecem. O tipo físico até passa, mas as diferenças em rosto, cabelo, trejeitos e feições não dão certo, ainda que nenhum dos dois seja mal ator. Isso, combinado com outras incongruências e conveniências só aumenta a preguiça do público. Liana Liberato e Michelle Monaghan também não são exatamente sósias, mas aqui a diferença ao menos é menos agressiva.

Existem vários romances bem melhores por aí, mesmo entre as produções baseadas em obras de Nicholas Sparks. Mesmo que seja bem o seu estilo, passe longe!